Anatomia é uma das matérias mais famosas quando se trata de
medicina. O monte de nome das estruturas para decorar torna essa disciplina uma
das mais temidas.
Primeira aula teórica
Fui para a primeira aula de coração aberto, mas ela foi um pouco traumática. Lá estava eu, sem atlas, sem roteiro, mais perdida que
cego em tiroteio; e o professor frenético, falou um monte de coisas numa
frequência absurda. Tentava anotar, mas ele estava falando muito rápido e eu
não dei conta. Resultado: susto. Depois dela, todos se perguntavam o que
estavam fazendo lá. Depois de um tempo descobri como me portar nas aulas de
anatomia; comecei a levar atlas, roteiro e até tablet para conseguir anotar
mais. Ao longo do período aprendi a melhor forma de render nessa aula. Tem que
ir com pique para acompanhar tudo porque é pesado, é muita informação por aula
e rende bastante coisa para estudar em casa.
Livros
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Atlas de anatomia humana mais famosos. |
Muitos dos meus veteranos disseram que era muito bom ter um
atlas em mão. Não é muito bom, é extremamente necessário, ainda mais para um iniciante. Estava em dúvida: Netter ou Sobotta? Uma sugestão que ouvi de uma amiga para escolher o atlas é: ir na biblioteca, comparar os dois e escolher o que você mais se identifica! Como meu professor utilizou as
imagens do Netter e coincidiu de gostar mais dele, então usei o PDF do Netter (em inglês) que o
professor enviou por email. Fiz isso porque não quis comprar o livro nem pegar
da biblioteca, porque muitos alunos levam esse livro para o laboratório, ele
entra em contato com os cadáveres e o formol, e eu morro de nojo. Como tenho uma
impressora boa e tenho as tintas em casa (eu mesma recarrego), eu imprimi as
partes que seriam necessárias no período e levei para as aulas teóricas
somente. Uso em inglês mesmo, porque treino um pouco do idioma apesar de a maioria dos nomes serem cognatos.
Primeiras aulas práticas
As primeiras aulas práticas foram somente com ossos. Chegamos no laboratório pela primeira vez e havia vários ossos dos membros superiores. O professor só disse "estudem os acidentes". Eu fiquei perdida, achei que ele fosse explicar mas isso não aconteceu de imediato. Depois que viu que todos estavam confusos explicou alguns ossos e a gente viu como fazer. Ainda bem que algumas pessoas da minha bancada estavam com o roteiro e deu para acompanhar com eles. (Roteiro é vida! Tentei sempre fazer um antes da prática, a partir do momento que percebi que com ele eu conseguia render na aula!)
Na terceira prática, somente, o professor levou peças moles. Esse não foi meu primeiro contato com cadáver porque tive a oportunidade visitar a faculdade de medicina da minha cidade, e, também, o laboratório de anatomia de lá. Vi, rapidamente e de longe, os cadáveres de lá, mas me lembro que tinham aspecto mais claro, as peças eram amareladas. Como já conhecia um laboratório de anatomia, não esperava algo diferente do que vi.
Na terceira prática, somente, o professor levou peças moles. Esse não foi meu primeiro contato com cadáver porque tive a oportunidade visitar a faculdade de medicina da minha cidade, e, também, o laboratório de anatomia de lá. Vi, rapidamente e de longe, os cadáveres de lá, mas me lembro que tinham aspecto mais claro, as peças eram amareladas. Como já conhecia um laboratório de anatomia, não esperava algo diferente do que vi.
Mas, quando fui ter a primeira prática com cadáveres como
estudante mesmo, foi uma surpresa. Eu havia esquecido que iriam ter peças moles,
então, quando entrei no laboratório, levei um susto. Todas as peças eram
diferentes das que tinha visto. O aspecto delas era horrível. As peças da
universidade alugada pela UFJF são antigas e escuras. Tinham várias cortadas como
busto de estátuas, e a feição dos rostos não era boa.
Antes de iniciar a faculdade, conversei com minha mãe, que é bióloga, sobre as origens dos cadáveres usados nas práticas. Refletimos sobre o contexto social no qual essas pessoas viviam, e também sobre algumas coisas relacionadas a isso, já que a maioria foram dados como indigentes. Nessa prática, toda a reflexão veio na minha cabeça. Eu me senti muito mal. Foi horrível e assustador. Eu recuei, fiquei num canto do laboratório, calada e com muito nojo. Estava suando, sem certeza se era frio ou por causa do calor; acho que era frio mesmo. E nesse momento, minha cabeça estava inundada de pensamentos: “Como foi a vida dessas pessoas? Qual a causa da morte delas? No fim da vida estiveram só. ” “O que eu estou fazendo nesse lugar? Medicina é mesmo para mim? ” Eu estava muito confusa e me sentindo muito mal naquele lugar. Eu só queria sair dali e chegar em casa e chorar. Eu realmente não esperava que fosse ser daquela forma.
Antes de iniciar a faculdade, conversei com minha mãe, que é bióloga, sobre as origens dos cadáveres usados nas práticas. Refletimos sobre o contexto social no qual essas pessoas viviam, e também sobre algumas coisas relacionadas a isso, já que a maioria foram dados como indigentes. Nessa prática, toda a reflexão veio na minha cabeça. Eu me senti muito mal. Foi horrível e assustador. Eu recuei, fiquei num canto do laboratório, calada e com muito nojo. Estava suando, sem certeza se era frio ou por causa do calor; acho que era frio mesmo. E nesse momento, minha cabeça estava inundada de pensamentos: “Como foi a vida dessas pessoas? Qual a causa da morte delas? No fim da vida estiveram só. ” “O que eu estou fazendo nesse lugar? Medicina é mesmo para mim? ” Eu estava muito confusa e me sentindo muito mal naquele lugar. Eu só queria sair dali e chegar em casa e chorar. Eu realmente não esperava que fosse ser daquela forma.
O que me impressionou foi o fato de vários colegas pegarem sem
dó, enfiar o dedo na boca dos cadáveres, sem nojo e sem qualquer, não sei como
dizer... Acho que a curiosidade, juntamente com a vontade e o sonho de cursar medicina, superou em muitos casos o desenvolvimento da mesma reflexão que eu.
Ainda bem que a Amanda Lopes, uma amiga, percebeu que eu estava mal e me
ajudou, fomos estudar os ossos que não havíamos visto ainda e conversamos um
pouco sobre o que se passava na minha cabeça. Ela também ficou bastante impressionada e inclusive achou estranho o
fato de o professor não ter feito uma cerimônia na qual se lia a Oração ao
Cadáver Desconhecido. Eu não sabia que existia esse evento, muito menos esse texto. Comentei isso com um veterano e disse que no próprio
laboratório tem esse texto afixado num quadro. No dia seguinte, eu e Amanda lemos a oração.
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Esse foi o texto que lemos. |
A segunda aula foi melhor, não tive coragem de encostar
porque tenho muito nojo. Só fui pegar nas peças mesmo na véspera da primeira
prova. São muito desconfortáveis as feições e os cortes dos cadáveres. Sempre
reflito na vida que esteve ali. E, também, o fato de terem sido dados como
indigentes, sem família, sem amigos. É extremamente triste. Estudar com o corpo
dessas pessoas exige muita maturidade e respeito pelo próximo.
Mesmo que primeira experiência com as peças não ter me
ajudado, recomendo a ida a uma universidade de medicina, independentemente da área
que pretenda seguir, somente para conhecer mesmo. Mas se você for fazer medicina,
espere que a situação da peça seja muito pior; pode ser sua primeira vez no laboratório
seja menos traumática (ou não).
Esse foi um breve resumo das minhas primeiras impressões com
anatomia, principalmente em relação aos cadáveres utilizados na prática.
Rachel Campos Ornelas
Adorei o post, Rachel!!!! Os calouros podiam dar uma passadinha aqui no seu blog, pra já irem antecipando o que está por vir nas aulas de Anato rs
ResponderExcluirMuito obrigada por esse relato! Quero cursar farmácia, e anatomia, mesmo sendo mais básica que na medicina, me assusta muito. Sempre vi pessoas falando q foi tranquilo e etc, mas nunca vi um relato com o qual me identifiquei tanto quanto o seu. Espero que dê tudo certo comigo também!
ResponderExcluirOi Lorena, tudo bem? Fico feliz que gostou do relato! Já está cursando farmácia? Espero que tenha dado tudo certo contigo. A anatomia assusta muito no início mesmo, mas aos poucos vamos nos acostumando, acabou que no início de 2018 eu me tornei monitora de anatomia... uma reviravolta. Mas não se deixe desanimar ou crie bloqueios por conta de uma disciplina, ela passa rápido. Além disso, pode ser que na profissão você não tenha o mesmo contato com anatomia que na graduação.
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